Afinal era mesmo verdade... a Joana estava grávida. A barriga já bastante proeminente esclarecera definitivamente as dúvidas que ainda restavam. À memória afloraram os momentos que esta passara nos Serviços de Psicologia e Orientação (SPO) e inevitavelmente colocou-se-me a questão: Qual a minha responsabilidade? O que poderia ter feito no sentido de prevenir que a Joana fosse mãe aos 16 anos, uma vez que falara algumas vezes com ela e com a sua encarregada de educação no SPO da escola? O que fazem as escolas para diminuir a taxa de gravidez na adolescência, já que esta é tão elevada no nosso País?
A desproporção entre a idade da Joana e o tamanho da sua barriga e todas estas questões inquietaram-me de tal forma, que decidi procurar identificar claramente os factores que contribuíram para que mais uma jovem em processo de formação e desenvolvimento tenha engravidado. Diversos estudos demonstram que existe uma diversidade de factores associados à gravidez na adolescência, tais como factores individuais, familiares e extra-familiares, nestes últimos pode incluir-se a escola. Que relação poderá então existir entre a escola e a gravidez na adolescência? A escola é sem dúvida um contexto de referência na compreensão da gravidez precoce, uma vez que esta surge frequentemente associada ao insucesso escolar, a baixas expectativas quanto ao futuro escolar e profissional, ao abandono escolar e à entrada precoce no mundo do trabalho. O insucesso escolar acumulado e as elevadas taxas de abandono escolar do nosso País são por si só dois factores que pesaram certamente nesta elevada taxa de gravidez na adolescência. Algo não deverá estar a correr muito bem no nosso ensino, já que são demasiados os alunos que chegam ao 2.º ciclo sem competências de leitura e escrita, que lhes permita prosseguir estudos.
Quanto ao abandono, continua a ser encarado com alguma leviandade por parte de algumas escolas: o que abandona a escola é considerado frequentemente pelos professores como menos um a chatear...
A Joana também tinha um percurso escolar marcado pelo insucesso e também abandonara a escola, a sua gravidez surgira posteriormente ao abandono.
Após esta reflexão houve um dado que me deu alguma tranquilidade. Já depois de a Joana ter abandonado a escola, contactei a família no sentido de que esta integrasse um curso profissional. Apesar de ter sido admitida no referido curso e de se ter mostrado muito motivada inicialmente, acabou por desistir de o frequentar. Foi uma oportunidade que a Joana não foi capaz de aproveitar e que poderia ter quebrado o ciclo. Infelizmente muitas jovens não têm sequer oportunidade de quebrar este ciclo porque frequentemente o abandono é visto como um problema da família e não como uma luta que a escola tem de ajudar a travar. Felizmente, pouco a pouco, as mentalidades parecem estar agora a mudar.